Fonte: Jornal DCI – 14.04.2009
Fabíola Binas
SÃO PAULO – Nem mesmo a turbulência econômica mundial deve impedir que o Brasil triplique dos atuais 12 mil para cerca de 30 mil quilômetros a extensão de rodovias concedidas à iniciativa privada no País, nos próximos anos. Trata-se de trechos estratégicos, onde a cobrança de pedágio possibilitará, além do retorno financeiro às concessionárias, uma série de aportes necessários – hoje 78% das estradas pavimentadas estão inadequadas ao trânsito de veículos. O negócio deve trazer ainda mais players estrangeiros ao mercado brasileiro, por meio de novas licitações internacionais que vêm se desenhando gradativamente.
"O Brasil é hoje o País com maiores oportunidades de investimentos na área de infraestrutura logística e concessões", comentou Paulo Tarso Vilela de Resende, doutor em Planejamento de Transportes e Logística pela Universidade de Illinois e diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Dom Cabral.
O especialista apontou a que, mesmo diante do cenário de crise, os últimos leilões de privatização de estradas apresentaram boa concorrência, o que é um sinal de que a tendência de atrair mais empresas nacionais e estrangeiras pode permanecer.
Prova disso foi a entrada da espanhola Isolux, da área de energia, no negócio de rodovias, ao integrar o consórcio vencedor que levou um trecho de rodovia que liga a Bahia a Minas Gerais, em janeiro deste ano. Até então, a participação de companhias de fora no setor se configurava pela participação de 17,9% da portuguesa Brisa na Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR) e pela forte atuação da espanhola OHL no segmento. Outro exemplo de disputa acirrada, no período pós-crise, foi a licitação de cinco lotes de rodovias paulistas, no final de outubro passado, quando houve peleja entre nove grupos, o que ocasionou cinco vencedores distintos e a volta do Grupo Norberto Odebrecht ao segmento.
Resende explicou que a expansão do negócio de rodovias se dá depois de o setor ter sido mal explorado por muitos anos, apresentando hoje muitas oportunidades. "Há ainda empresas, em países como França, Itália e Estados Unidos, que podem entrar no jogo", revelou ao DCI o professor da Dom Cabral. Ele apontou que ainda há oportunidades no eixo sul-nordeste e no leste-oeste que devem ter concorrências até 2014, período depois do qual as licitações rodoviárias podem se estender até estradas na Região Nordeste e nos Estados de Minas e Espírito Santo.
O próprio diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) , Bernardo Figueiredo, divulgou que até junho próximo haverá mais um lote de dois mil quilômetros em Minas Gerais, sendo que até o final do ano, devem entrar em pauta mais 1,6 mil quilômetros de trechos divididos entre o Espírito Santo, a Bahia e Santa Catarina.
Integração
Outra tendência apontada pelo especialista é a reestruturação da matriz logística do País, cujo transporte hoje é de 65% focados no modal rodoviário e 25%, nas ferrovias. De acordo com ele, se todas as obras previstas pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) acontecerem no tempo previsto a distribuição ficará mais equilibrada, com cerca de 50% da movimentação no rodoviário e mais de 35% no ferroviário.
"Parece que o rodoviário perde, mas não é assim: ele ganhará em valor agregado", incluiu Vilela, explicando que uma malha mais divida entre os modais corretos e sua vocação vai ocasionar ganhos para todos os setores.
Seguindo a tendência de incremento do modal ferroviário, a América Latina Logística (ALL) divulgou ontem seus resultados financeiros trimestrais, que confirmam um incremento de 10,4%, no volume de cargas movimentados entre janeiro e março de 2009, passando de 7,02 milhões de toneladas para 7,75 milhões, na comparação com o mesmo período do ano passado. A companhia atribuiu o crescimento à ampliação da participação no segmento industrial e ao mercado agrícola favorável. Por outro lado, na Argentina o volume caiu 4,5% no 1º trimestre.
Também ontem, o setor de logística ganhou uma nova frente, que começa a atuar em duas semanas: a Frente Parlamentar de Logística, Transporte e Armazenagem, para a qual foi eleito como presidente o deputado federal Homero Pereira (PR-MT).
As rodovias concedidas devem saltar de 12 mil para 30 mil quilômetros nos próximos anos e podem atrair investimentos de players de países como França, Itália e Estados Unidos.
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